Diálogo imáginário com Zé Rodrix

Posted: quarta-feira, 27 de maio de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
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- Cumpadre meu, o meu coração me chama, pra dizer que você regressou.

- Conheci um velho vagabundo, que andava por aí sem querer parar, quando parava, ele dizia a todos, que minha vida não acabou, ela tem um lugar no cometa em direção a nova era... Outra vez na estrada, mais uma vez !

- O pó da estrada brilha nos meus olhos, como as distâncias mudam as palavras na minha boca ...

- Só espero a hora, nem que o mundo estanque, prá me aproveitar do conforto de não ser mais ninguém. Eu vou virar a própria mesa, quero uivar numa nova alcatéia, vou meter um "marlon brando" nas idéias e sair por aí, prá ser Jesus numa moto ...

- Você não sabe nem vai saber, que sem você pouca coisa sou, sou pó rasteiro, capim no chão, água sem ribeirão.

- Dentro da baleia a vida é tão mais fácil, nada incomoda o silêncio e a paz, quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora, a baleia é mais segura que um grande navio.

- Às vezes nem todo o dinheiro do mundo, vale a revelação da triste certeza, de estar sozinho à mesa.

- Eu tô doidin por uma viola de doze cordas e quatro cristais, pra eu poder tocar lá, esse meu blues de Minas Gerais e o meu cateretê lá do Alabama, mesmo que eu toque uma vezinha só!

- Quero que voce me faça um favor, já que a gente não vai mais se encontrar, cante uma cançao que fale de amor e seja bem facil de se guardar...

- Adeus Remanso, Casa Nova, Santo Sé! Até mais ver, sertão! Eu descobri e acho que foi a tempo que hoje ainda é dia de rock!

O Caso Maísa

Posted: terça-feira, 26 de maio de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores: ,
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Também quero demonstrar minha indignação a respeito do "Caso Maísa". Pôxa vida, onde estamos mirando o futuro de nossas crianças? Aliás, o que estamos fazendo do presente da infância de nossas crianças enquanto tais? Onde já se viu? uma menina com apenas sete aninhos de idade, inteligente, carismática e etc. sendo já explorada pelo mercado de trabalho e suas artimanhas. Isso sem levar em consideração os diversos percalços inerentes à exposição midiática. Mas ainda bem que podemos contar com nosso Ministério Público doTrabalho que, ao tomar ciência do ocorrido, prontificou-se a processar os elementos responsáveis pelo tão grave constrangimento sofrido pela vítima (a menina). Imaginem o que aconteceria se providências desta espécie não fossem tomadas, o que seria de nossos pimpolhoss se não ostentássemos uma justiça tão eficaz? Certamente veríamos, não raro, crianças a pedir esmolas, a vender balas e o corpo em semáforos (imaginem que absurdo!). No entanto, o "Caso Maísa" nos nos tranquiliza e nos permite dormir em paz, seguros de que a integridade de nossas crianças está sob bons olhos.

Meu direito ao mal

Posted: sexta-feira, 22 de maio de 2009 by Emmanuel G. Lisboa in Marcadores:
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Dias desses fui a uma loja de rodas para fazer alinhamento de um veículo, como dentro do recinto não era permitida, por razões de segurança, a inserção de monóxido de carbono nos pulmões, mais pela brasa do que pelo monóxido, fui à frente da loja para fumar. Ali, sobre a calçada fui interpelado por um automóvel prateado, contendo dois sujeitos engravatados e com jeito de donos de uma polpuda renda, estes me questionaram sobre a localização exata do fórum da cidade. Prontamente lhes indiquei, e eles seguiram viajem depois de muitos agradecimentos.
Mais tarde, naquele mesmo dia e já sem automóvel, estava em um bar, lá encontrei um amigo que é policial e havia parado ali para tomar uma cerveja depois de um longo e exaustivo dia no fórum. Este, relatou-me seu dia, esteve no fórum por ocasião do julgamento de um perigoso criminoso, julgamento este bastante atrasado devido a não chegada dos promotores que apareceram apenas duas horas depois do combinado.
Mesmo que os homens ajudados por mim não sejam os promotores. Até porque se forem, prefiro que não o sejam, para minha reflexão ter alguma graça. Vi no acontecido do dia e no excesso de álcool, uma razão para refletir e é o que divido com aqueles que não têm com quem transar, estão sem dinheiro para beber, ou procuram uma leitura diferente, o textículo que segue.
Sou um fumante convicto, inveterado e apaixonado por essa descoberta indígena de folhas (perceba bem a beleza do adjetivo) oblongas e macias recheadas de nocotina. Gosto de todos os tipos de tabaco, cachimbo, charuto, cigarros por fazer e os industriais, em suma sou fumo amante. Ouço há anos que o cigarro é capaz de matar, penso muito nisso, e creio que quem mata é a vida, pois nunca soube de algum morto que tenha morrido depois de morto, eles sempre morrem quando estão vivos. Consoante, partamos do a priori (alguém que ler isso me diga porque todo mundo, menos o Kant escreve a priori usando itálico) de que o cigarro, coitado, mata. Se realmente ele mata, não vivemos numa (agora vem a piada) liberdade, ou democracia, (termina a piada), e se vivemos num sistema destes não temos o direito a escolha. Vejamos algumas escolhas a que dizem termos direito:
1 – o casamento: selecionamos numa gama múltipla a pessoa com a qual desejamos dividir nossa casa, nossa vida e nossas responsabilidades;
2 – os governantes: selecionamos cuidadosamente entre inúmeros candidatos aqueles que irão governar nosso país, estado, município e até condomínio;
3- a residência: escolhemos onde iremos morar conforme nossas condições financeiras, sociais;
Essa lista é enorme, escolhemos até mesmo a compra daquilo que não queremos comprar. Mas na nossa democracia, nos é cerceada a escolha última, não podemos escolher, como viveremos nossa última certeza, temos de morrer de qualquer coisa, exceto daquilo que quereríamos morrer é nos proibido fumar – como já dizia o Robertão. Nesta toada, os programas de televisão, os jornais, as emissoras de rádio, os cantores populares, os maus escritores, as professoras primárias, os acadêmicos e outros seguimentos sociais, promulgam nosso não direito a morte, apontando um monte de males do cigarro, males que qualquer alfabetizado sabe quais são. Tal raciocínio me leva a apontar razões para se fumar.
a) O cigarro é um agregador social: entre os fumantes existe certa cumplicidade inexistente nos restante da vida moderna. Um fumante olha para o outro de um jeito diferente, são próximos uns aos outros e quando se reúnem para fumar estabelecem diálogos producentes, que dificilmente seriam estabelecidos frente ao ocupado público de não fumantes.
b) Os fumantes são mais informados: devido à quantidade de informação presente em nosso tempo, ninguém é capaz de ler todos os jornais, blogs e sites, assim cada fumante, em sua ação coletiva, troca as informações que possui com os outros fumantes e recebe daqueles a informação que eles detém.
c) Os fumantes são criativos: a literatura prova isso, Sartre, Guimarães Rosa, Álvares de Azevedo, Clarice Lispector, Murilo Rubião, mais recentemente Claúdio Willer e muitos outros são grandes escritores hoje, lidos e relidos por muitos não fumantes. Deve-se destacar o triste caso do escritor Albert Camus, fumante inveterado, faleceu num acidente de automóvel, defendo que o autor de O Estrangeiro merecia um enfisemazinho que fosse.
d) O fumo é um unificador social: tomo, mais uma vez, o relato pessoal: eu, intelectual, pseudo-classe média, professor em diversos níveis de educação estabeleci uma sincera e contínua amizade com o meu porteiro, razão, o cigarro que fumamos juntos depois do jantar.
e) Os homens fumantes têm uma maior gama de cantadas: entre homens e mulheres fumantes são possíveis muito mais cantadas do que a dúbia “tem fogo” listada por Clara Averbuck, é possível também o “quer meu canudo”, “chupa bem” e muitos outros que conciliem objeto fálico e fumaça.
f) Os fumantes são menos feios: o maior exemplo disso é o governador do Estado de São Paulo, pai da lei anti-fumo, ele não fuma e é mais feio que o rancor.
Não é intenção deste texto enfadar o leitor, mas sim convidá-lo a uma reflexão, a despeito das brincadeiras e hipérboles quero questionar, o fato de se uma lei feita em nome do bom senso de um só homem, de sua leitura de mundo, de seu eleitorado e de uma sociedade excessivamente limpa, não nos fere em nosso estado de direito, na independência e liberdade postuladas pelo mundo contemporâneo?
Será que se a tolerância virou instrumento do ideológico do estado, não foi oferecida a sociedade paulistana, burguesa e certinha um alvo de intolerância – o fumante, preocupado, apenas em fazer mal a si mesmo?

Fotografia

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O braço direito estirado,
o esquerdo por sobre o peito.
Num leito improvisado,
a despeito do sol a pino,
dormia, tendo ao seu lado
apenas o cão como amigo.
Em meio ao ruído dos carros
e passos de transeuntes,
da calçada roubava o espaço
ao passo que a fome, a saúde.

A saúde, mas não a vida.
A vida, mas não a alma.

Alma que aos poucos se ia
e do corpo não desgrudava

André Prosperi

Por quê poesia não vende?

Posted: quarta-feira, 20 de maio de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
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Estive conversando com uns amigos, conversamos muito, e não conseguimos chegar a uma conclusão/solução, ou melhor, nem chegamos, depois de desfazer a pergunta, ficamos estagnados no início: Poesia não vende, ponto.
Talvez seria porque poesia não é necessária, mas consumimos muitas coisas que também não são. Compramos badulaques, trecos, até camisas, calças, sapatos que nunca usamos. Vi em um programa de televisão uma figura que tinha mais de cento e cinquenta pares de sapatos, se ela usasse todo dia um, coisa que duvido, ficaria cinco meses desfilando de sapato diferente, será que isso é necessário? Assisti o programa e nem sabia porque, logo não era necessário, mas eu estava lá, em frente a tv, consumindo essa porcaria! E o pior que tenho prova em minha, mal dita, memória!
E por que diabos que essas pessoas não consomem poesia? Os grandes, Drummnond, Pessoa, Quintana, Bandeira, até eles, sofrem com as vendas pífias, agora os pequenos, os poetas contemporâneos, aqueles que encontramos no bar ou na rua, coitados, nem se fala.
Creio que a sociedade moderna tornou o homem tão egoísta, que ele não está disposto para ter uma nova perspectiva, uma nova visão sobre um tema e até mesmo uma dor de cotovelo que não seja a dele mesmo. Muita informação esse homem recebe, mas a poesia não é apenas informação, ela dá recados ao coração, à alma, a sensibilidade desse homem, que não está acostumado, ou até, nem saiba que existe nele um coração, uma alma e a sensibilidade, e pior ainda! Talvez nem exista mesmo, vai ver o homem moderno já venha sem esses itens de fábrica.
Como já disse o grande poeta Roberto Piva: A poesia entendida como "instrumento de Libertação Psicológica e Total, como a mais fascinante Orgia ao alcance do Homem"

Um novo BLOG

Posted: segunda-feira, 18 de maio de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in
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Pessoal,


Fiz um BLOG para expor e discutir as redações de meus alunos, quando der dê um olhadinha: http://producaodetextonaweb.blogspot.com/

Fabiano

Arte e Entretenimento

Posted: quarta-feira, 13 de maio de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
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Existe uma linha que separa arte e entretenimento? Não quero entrar em discussões filosóficas, mesmo porque até hoje não se tem uma definição de arte, então pegarei esta: É a representação do ser humano por meio da música, escultura, pintura, dança, literatura, cinema ou teatro para expressar suas emoções, seus sentimentos, sua história, sua cultura, com uma preocupação estética (beleza, harmonia e equilíbrio). O entretenimento é, segundo o Aulete digital, a ação ou o resultado de distrair-se.
Com isso, podemos dizer que arte é a produção de algo sob uma estética por um meio, e entretenimento se dá ao ver, assistir ou interagir com o objeto artístico. Certo? Errado. Não é bem assim, não. Para se ter arte é preciso que haja uma utilidade, - apesar de muitos afirmarem que arte não serve para nada -, utilidade que é a reflexão, a sensibilização, a transformação do espectador. Ficar olhando o teto ou o chão é distrair-se, pode se considerar entretenimento.
O grande problema de hoje em dia é a tentativa da mídia em querer misturar e vender entretenimento por arte. Uma peça de teatro, cuja única preocupação, é vender bilhetes e que para isso o texto apareça recheado de piadinhas estereotipadas, não é arte, ou um livro, cujo enredo sirva apenas para comover os leitores com amores baratos e piegas, também não é arte, assim como não é arte o filme recheado de tiros, batidas de carros, explosões, e por aí vai...
Cheguei a uma conclusão, juntamente com meus alunos, aquilo que é feito para te ajudar a esquecer, por um curto período que seja, de um dia de trabalho cansativo ou algo assim é entretenimento, aquilo que é feito para te fazer pensar, refletir, avaliar, reavaliar a sociedade, o mundo e até você mesmo é arte.

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A Dança

Posted: terça-feira, 12 de maio de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores: ,
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Os Teratos

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O operário no Mar - Carlos Drummond - o bravo!

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Poema em prosa da obra Sentimento do mundo

Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?

Estou publicando aqui um artigo do Hans Magnus Enzemberg - ele é nosso amigo, só não sabe disso ainda!

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A Irresistibilidade da Pequena Burguesia. Um Capricho Sociológico

Hans Magnus Enzensberger
[Este artigo de Enzensberger, datado de 1976, foi publicado no Brasil em 1985. Corresponde a um período em que, apesar da crise estrutural já ter sucedido o ciclo expansivo do pós-guerra, os efeitos da decadência da economia de mercado nos "países centrais" ainda podiam ser repassados para a "periferia" via juros da dívida e, no caso da época da publicação do Brasil, a crise profunda da década perdida podia ainda ser "driblada" pela classe média através das seguras cadernetas de poupança, dos salários elevados dos profissionais especializados nas multinacionais e dos privilégios do funcionalismo público. Uma visão sobre essa mesma classe, abordando a sua relação com a crise, da qual não pode mais escapar, pode ser vista em A Intelligentsia depois da luta de classes e Os bobos da corte do capitalismo, ambos artigos de Robert Kurz]

O fato de que você, que está lendo isso, o leia, é quase uma prova: prova de que você a ela pertence. Perdoe, distinta leitora, fiel leitor, por essa abordagem tão direta (talvez seja exagero dizer "prova"). "No que se segue", admito que pretendo fazer mais afirmações do que provas, por exemplo essa: que existe algo como uma pequena burguesia. Sem pestanejar. Afinal pequena burguesia é uma palavra como qualquer outra, embora soe antiquada (assim como distinta leitora), e o fato de em geral ser pronunciada em tom irritado, praticamente cuspida, não é culpa minha. Sempre foi assim, desde que Ludwig Börne, um pequeno-burguês, a introduziu no vocabulário dos alemães, por volta de 1830.
Sem escrúpulos, isto é, sem ter folheado a "literatura", isto é, algumas dezenas de milhares de páginas sobre o conceito de classe em M., E. e X., ainda sustento que a classe aqui mencionada só pode ser determinada pela sua negação, como sendo aquela que nem é uma coisa nem outra.
Não por curiosidade, apenas na esperança de me fazer compreender, permito-me algumas perguntas.
— Você vive, ou poderia viver, da renda do capital que aplicou em meios de produção?
— Não? Veja, eu já suspeitava disso.
— Mas isso quer dizer que você vive unicamente da venda da sua força de trabalho por hora a um capitalista, que se apossa da mais-valia do seu trabalho?
— É? Tem certeza?
— Então, nada de bolsas? nem juros? nem honorários? nem subsídios? ganhos extras? diárias? Participação nos lucros? Aluguéis? Prêmios? Comissões?
— Nenhum capital intelectual acumulado? Nem ajuda de custo para troca de moradia? Nenhum escritório? Nem moradia própria? Nem verba de representação? Nenhum meio de produção próprio, sequer uma pequena biblioteca de consulta? Em suma, nenhum ganho desviado da mais-valia criada pelo trabalho de outros?
Peço mais uma vez desculpas por essas indagações pedantes e inoportunas.
Possivelmente não é a coisa em si que o incomoda, mas apenas a palavra. Soa tão miserável: pequena burguesia. Mas você certamente não é o único a ficar encabulado. Por isso mesmo, aqueles de quem estou falando tiveram uma porção de idéias sobre nomes para aquilo de que falo (e no que me incluo). Por favor escolha e marque com uma cruzinha o que lhe agradar:
Classe média (velha, nova, alta, baixa, média, "elevada");
Empresariado (pequeno), artesanato, "classe" média;
"Camada" de empregados (média, alta etc.);
"Funcionalismo", "setor terciário", burocracia;
Gerentes, "especialistas", tecnocratas, inteligência técnica;
"Autônomos", profissionais liberais;
"Universitários", intelligentsia ("independente", científica etc.).
Está vendo, portanto, ninguém quer se aproximar demais de você. Apenas lhe convido a situar-se de alguma forma e solicito-lhe a permissão para usar a 1ª pessoa do plural, a fim de simplificar as coisas. Muito obrigado.
Portanto, pertencemos a uma classe que nem domina nem possui aquilo que interessa: os famosos meios de produção; e que não produz aquilo que também interessa, a famosa mais-valia (ou só a produz indireta e secundariamente, um ponto muito debatido nos seminários; mas não é de modo algum tão delicado quanto nos querem fazer crer). Exatamente dessa maneira inexata são os fatos. A pequena burguesia não pertence aos dois principais protagonistas da (famosa) contradição principal, não é nem a classe dominante nem a classe sugada, mas a classe do meio, a classe que sobra, o resto vacilante.
Um resto penoso de suportar para os amantes das imagens limpas, simpáticas, nítidas. A classe que vacila é sempre a que incomoda. Sua existência provoca constante confusão entre teoria e práxis. Para eliminar esse escândalo do mundo (e por uma série de outros motivos que talvez ainda abordemos), nos últimos anos não faltaram tentativas de liquidar a pequena burguesia. Até certo ponto, diziam, podia-se deixar essa tarefa às sólidas regularidades da história. Diziam que, por si (ainda dizem isso em alguns lugares), a parte menor de nossa classe passaria para o lado dos graúdos, ascendendo à alta burguesia, conseqüentemente morrendo com ela, que já está condenada à morte; a outra parcela, bem maior, ficaria ao lado dos cordeiros e lá colheria os frutos do socialismo: os justos haveriam de proletarizar-se devido às (famosas) leis de movimento do capital, embora nem sempre voluntariamente. O resto insignificante de iníquos deveria ser, então, simplesmente eliminado.
Nossos antepassados, se pertenceram à classe aqui descrita, entenderam a mensagem e acreditaram sinceramente na profecia, com temor e tremores.
Mas ela não se realizou. Seja o que for que aconteceu com os pequeno-burgueses, seu apocalipse não se deu. Nem a concentração progressiva do capital, nem a inflação secular, nem o progresso técnico-científico, nem guerras, nem crises acabaram com ela. Nem mesmo a introdução de uma espécie de socialismo pôde eliminar a classe vacilante na União Soviética, na Europa Oriental, nos países do Terceiro Mundo. Ao contrário, produziu-se um novo tipo de pequeno-burgueses, os das revoluções vitoriosas, os bonzos, os quadros, os funcionários públicos: singulares mutantes, inauditas expressões de uma "nova classe" que se parece muito com a antiga.
Mas também nas sociedades capitalistas os antigos bons e maus petít-bourgeois não ficaram inalterados. As figuras Biedermeier do pequeno artesão, do dono da lojinha, do burguês culto e dos cidadãos honrados não desempenham mais um papel central, como outrora (uma olhada nos parlamentos alemães mostra porém que o tipo não morreu). Mas parece que a "classe média" compensou seus sacrifícios, ampliando-se ainda mais quantitativamente, firme e despercebidamente como capim. Em cada mudança estrutural da sociedade ela lançou, por assim dizer, novas raízes. A cientifização da produção, o crescimento dos setores terciário e quaternário da economia, o aumento de gerências privadas e públicas, a extensão da indústria da consciência, as instituições pedagógicas e médicas: a pequena burguesia esteve presente em tudo isso. Também depois de cada mudança política ela instalou-se imediatamente nos novos aparatos estatais e partidários, e não apenas defendeu mas alargou a sua "posição" social.
Uma teoria capaz de fundamentar a força de sobrevivência, a capacidade de resistência e o sucesso histórico dessa classe parece não existir na atualidade. Já o fato de que a pequena burguesia é tão grosseira e obstinadamente menosprezada, há pelo menos 150 anos, merece explicação. Ninguém colaborou mais para essa subvalorização do que a própria pequena burguesia. Tal fato certamente se relaciona com sua peculiar consciência de classe. Ela foi frágil desde o começo e, hoje, só se pode descrever como pura carência. Pois assim como a classe só se determina analiticamente de forma ex-negativa, também deste modo se entende a si mesma. O pequeno-burguês quer tudo, menos ser pequeno-burguês. Tenta obter sua identidade, não se reconhecendo membro de sua classe, mas negando-a. Válido deve ser só aquilo que o distingue: o pequeno-burguês é sempre o outro. Esse estranho ódio de si mesmo funciona como um disfarce. Com sua ajuda, a classe tornou-se quase invisível. Ação solidária e coletiva não entra em questão para ela; jamais terá a autoconsciência de uma classe. Esse mecanismo de rejeição leva subjetivamente a fazer com que ela não seja respeitada socialmente; objetivamente, impede a formação de organizações de classe univocamente determinadas, politicamente abrangentes. O quadro social da pequena burguesia tende ao mimetismo, quanto mais aumenta, mais inconfundível ela se torna.
Provavelmente nunca houve antes uma classe tão dividida, tão desintegrada. O extremo fracionamento objetivo e subjetivo da pequena burguesia não é um enigma. Nasce da sua situação econômica e de sua história. Sua relação com os meios de produção passa por inúmeras mediações e derivações. Daí se segue, de um lado, a sua incapacidade política em tomar o poder. Essa classe não quer e não pode dominar, e interioriza essa impotência de forma muito particular. O pequeno-burguês recusa o poder e adora-o, mas isso significa que o delega e só o percebe enquanto poder delegado, à medida que o administra, justifica e o põe em dúvida. Mas quanto menor se torna a classe dominante propriamente, tanto mais ela precisa da pequena burguesia, para generalizar e transmitir o seu poder. De outra forma, há muito que a classe trabalhadora não poderia mais ser mantida desarmada e controlada. Assim também a influência política da pequena burguesia se pode determinar ex-negativo, como uma espécie de inarticulado poder de veto. Por isso explica-se o interesse da pequena burguesia no aspecto formal da política, nos procedimentos, prescrições, regras legais e formas de relacionamento.
A incapacidade de unificação e de aliança tem porém seu lado reverso. A multiplicidade e a sua articulação extremamente graduada segundo o status, grupos profissionais e propriedade, fundamenta também a resistência, a dinâmica e a agressividade da classe. Ela é uma vantagem na evolução social, um fator de auto-subsistência. Em sistemas biológicos vale a frase: uma espécie é tanto mais difícil de exterminar quanto maior sua variabilidade, seu pool genético. Uma regra análoga vale na sociedade. Um monolito social sobrevive mais dificilmente às mudanças de condições históricas, do que um conjunto de articulações variadas. A capacidade de adaptação, ideologicamente pouco valorizada e tachada de mau-caratismo e oportunismo, acusada exatamente pelos pequeno-burgueses, aumenta sem dúvida as chances de sobrevivência de uma classe. Ninguém a tem em maior grau do que o petit-bourgeois. Nenhum nicho social é tão pequeno, tão afastado, tão isolado, tão exposto, que ele não o tente ocupar. Nunca fixar-se definitivamente e agarrar qualquer possibilidade: é a única coisa que a classe aprendeu de sua história tão cheia de mudanças. Há muito se despediu de seu antigo caráter social, do hábito pacato, filisteu e tacanho dos primeiros tempos. Ainda não se sabe até que ponto essa predileção pela perseverança arrogante é herança histórica; também a antiga pequena burguesia do século XIX era uma classe nervosa, irritadiça, facilmente indignada e rebelde, com uma tendência esporádica para o radicalismo, à súbita excitação, crítica por ressentimento e corajosa por medo. Foram pequeno-burgueses que criaram a figura do burguês tacanho; foi de burgueses que se compôs a boemia, cuja especialidade era chocar outros pequeno-burgueses.
Hoje em dia a classe está cheia de homens progressistas, ninguém mais ávido do que eles para seguirem as mais novas tendências. Essa classe está sempre na última moda. Ninguém é capaz de mudar mais depressa suas ideologias, roupas, formas de convívio social e hábitos, do que o pequeno-burguês. Ele é um novo Proteu, cuja capacidade de aprender vai até a perda de identidade própria. Sempre fugindo do que envelheceu, ele corre atrás de si mesmo.
Derrotas políticas podem abalar a classe trabalhadora na sua consciência de classe; mas é impossível roubar-lhe a tranqüila convicção da necessidade de sua existência. Também a alta burguesia se julga indispensável. A pequena burguesia, ao contrário, tem de lutar constantemente contra a sensação de ser supérflua. O cinismo é privilégio dos dominantes. Mas a classe rejeitada, pelo contrário, busca justificativas; está permanentemente à procura de sentido. É tão engenhosa quanto inescrupulosa, mas sempre necessitada de moral. Produziu obras-primas solitárias em matéria de racionalização e dúvida. Mas sua autocrítica e a sua autonegação são de dimensões limitadas. Uma classe não pode eliminar a si mesma. Por conseguinte, dúvida e derrocada servem em última análise de estímulo e prazer para a pequena burguesia. Torná-la insegura é fácil. Dissuadi-la de si mesma é impossível. A pequena burguesia questiona-se incessantemente, é a classe experimental por excelência. Mas o processo de auto-estímulo serve apenas para manutenção e ampliação de sua própria esfera. Sua insegurança tem método; é usada para uma estratégia que não desiste da quimera da segurança.
Como se explica a posição central que a pequena burguesia mantém em todas as sociedades altamente industrializadas da atualidade? Nossa classe não dispõe de capital, nem tem acesso direto aos meios de produção; está mais distante que nunca do poder econômico e político. Não saberá ela mesma em que reside sua força? Ou será medrosa demais para soltar esse gato do saco? Chegamos perto da resposta, simples e lapidar: a pequena burguesia dispõe hoje em dia de hegemonia cultural em todas as sociedades altamente industrializadas. Tornou-se a classe modelar, a única que produz em massa as formas de vida cotidianas e as torna obrigatórias para as demais classes. Ela promove a inovação. Decide o que é belo e desejável. Determina o que será pensado (os pensamentos dominantes já não são os da classe dominante, mas os da pequena burguesia). Ela inventa ideologias, ciências, tecnologias. Dita o que significa a moral e a psicologia. Decide sobre o que deve "acontecer" na chamada vida privada. É a única classe que produz arte e moda, filosofia e arquitetura, crítica e design.
Toda a esfera do consumo de massa é decididamente marcada pelas idéias da pequena burguesia. Artigos de mercado e propaganda são projeções de sua consciência. No consumo repetem-se em forma generalizada todos os traços do caráter social pequeno-burguês: dinamismo e individualismo, progresso como fuga para a frente, formalismo e inovação permanente, esbanjamento e necessidade de continência. Basta apontar para a forma dos dois bens de consumo simbólicos da nossa civilização: aparelho de televisão e automóvel particular. Só o pequeno-burguêss poderia inventar esses singulares objetos.
Igualmente impressionantes são suas façanhas no campo da produção imaterial. Os aparatos da superestrutura são todos ocupados por membros de nossa classe, assim como todas as "correntes", "orientações" e "movimentos", que têm algum papel nas sociedades altamente industrializadas, são inspirados, carregados e impostos pela pequena burguesia: do turismo ao do it your seif, da Vanguarda artística ao urbanismo, do movimento estudantil à ecologia, da cibernética ao movimento feminista, do esporte à "liberação sexual" e assim por diante, o tempo inteiro. Cada movimento alternativo dentro de nossa cultura foi imediatamente tomado pela pequena burguesia — basta pensar no exemplo da música rock que originariamente foi uma expressão de jovens proletários, assim como cinqüenta anos antes fora o jazz. Até ideologias originalmente bem subversivas, como o anarquismo e o marxismo, hoje em boa parte são apropriadas pela pequena burguesia.
Só uma pormenorizada análise materialista poderia explicar como a "classe experimental" chegou à sua hegemonia cultural. Um alto grau de industrialização certamente é necessário, embora não seja uma condição suficiente. O modelo da cultura pequeno-burguesa pressupõe certa riqueza social. Só quando a produção é altamente organizada, as esferas sociais da distribuição, da circulação e da administração podem se estender, formando uma larga "classe média". Inversamente, é a crescente centralização e concentração de capital que faz com que a classe dominante se reduza, tendo de sacrificar a sua hegemonia cultural.
A produtividade frenética da pequena burguesia, sua capacidade de inovação, porém, deveria ser explicada simplesmente pelo fato de que não lhe resta outra coisa. Ela é "inteligente", "talentosa", "inventiva", porque disso depende sua sobrevivência. Os donos do poder não precisam disso; mandam outros inventar, compram inteligência e "atraem" talentos. O proletariado, ao contrário, priva-se sistematicamente de toda a produtividade autônoma. "Vocês não têm nada que pensar!" berrava já F. W. Taylor, pequeno-burguês e pai da racionalização, referindo-se aos operários de produção, e naturalmente não foi só no Ocidente. Assim, ex-negativo, é que se explica o fabuloso talento da pequena burguesia, como a maior parte das suas outras qualidades.
Muito diversa é a questão do que torna a cultura hegemônica da pequena burguesia tão irresistível. Como ela pôde tornar-se modelo universal, seguido por bilhões de pessoas? O que o torna extraordinário? Devido a que qualidade ela elabora praticamente todos os projetos alternativos, tanto nacional como mundialmente?
É uma verdade evidente que o proletariado europeu está marcado, em suas formas de vida e aspirações, pela cultura pequeno-burguesa. Mas também a antiga forma de vida da alta burguesia foi totalmente liquidada por ela; seu luxo encolheu para o formato das revistas ilustradas; seu padrão "exclusivo" é apenas aquele dos pequeno-burgueses que se permitem usar uma marca cara. Inversamente, é apenas questão de tempo que a escova de dentes elétrica entre triunfalmente nos cortiços. Já não existe hoje mais qualquer bazar oriental ou mercado malaio, ou caribense, onde os fósseis básicos da cultura pequeno-burguesa não tenham conquistado, há muito, seu lugar. Os fundamentos econômicos dessa invasão total e geral são conhecidos e não foram criados pela pequena burguesia. Contudo, o que qualquer consideração puramente econômica exclui é a dimensão cultural desse processo (Pier Paolo Pasolini o descreveu exemplarmente para a Itália).
Portanto, fica a indagação: o que é tão singular, tão sedutor no isqueiro de mesa, no gosto de Pepsodent, na poesia concreta. na sala para cultivar um hobby, no programa "Vila Sésamo", no limão de plástico, na pesquisa de comportamento, em Emma e Emmanuelle, no desodorante, no Sensitivity Training, na câmera Polaroid, na mercadoria exposta, na parapsicologia, no Peanuts e na liga metálica, na camiseta, na Science Fiction, no seqüestro de aviões e no relógio digital, que ninguém, nenhuma nação, nenhuma classe social, de Kamtschatka à Terra do Fogo, lhes seja imune? Não terá realmente aparecido nenhuma resistência contra o que nossa classe inventa? Ninguém escapará, nem mesmo os congoleses, de se munirem de cuecas desenhadas por um modista francês? Também os vietnamitas terão de engolir Valium? Nenhum caminho passará longe da terapia de comportamento e do Concorde, de Masters & Johnson, da cidade-satélite e da pesquisa de currículos? E o estofado em material semelhante ao couro, que respira, que é resistente à sujeira, com almofadas de assento e encosto soltas, de espuma de borracha, presas com botões, molejo de espuma de borracha amortizado com algodão, com fivelas ornamentais, divisões inferiores em tiras de couro, transportável e giratório, sobre rodinhas de cromo, essa peça maravilhosamente linda que me persegue implacavelmente, que está à minha espreita por toda parte como o ouriço do conto de fadas, que está sempre ali, nas festas de aniversário, na televisão, no quarto-e-sala de um operário turco em Berlim-Schöneberg, no Spiegel, no dentista, nas férias aventurescas, nos órgãos do Partido, na liquidação, no belo Danúbio azul, na Casa Branca e no depósito de lixo — será que nada adianta, será que ela continuará irresistivelmente seu trajeto, essa encarnação de todos os sonhos floridos de nossa classe, até chegar aos souks de Damasco e ao aeroporto de Xangai?
Provavelmente já está lá há muito tempo.

Artigo publicado em Com raiva e paciência: ensaios sobre literatura, política e colonialismo. São Paulo: Paz e Terra, 1985, p. 87-95.

A Catequista

Posted: domingo, 10 de maio de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in
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Em qual brecha, qual cochilo meu
você – xereta - aconchegou-se neste
fugaz coração ?
Agora sou sarjeta inerte, ultrajado
esperando tua gorjeta,
sou um fantoche paisano e gentil


Qual saída ou saidera conduz-me a teu paço ?
O que anestesia, paralisa teu esplendido passo ?
Não há sossego
tua face é majestade onde floresce meu apego
Espontâneo meu caminho de ser o excêntrico servo
bobo da corte sozinho


Suave o teu traje:
num tecido de cetim, um vestido bege
Maquiada de virgem oscilando o consenso
da vertigem obscena e do trejeito angelical
Talvez tua proeza está no justo deslize
de catequizar o imoral


Você é o êxtase dum sentimento framboesa
narcótica cor cereja de uma ânsia
corrompido néctar de jiló
gelo, queima ácido
Estende-me uma luxuria como um firme aço
Um querer inesgotável, diariamente assíduo


Qual jejum me purifica ? desconheço
Qual monge traz a paz ? a consciência confusa
Qual xarope me cura? anulo toda ciência
Qual pajé me guia? não assumo culpa
Qual sargento me dá ordem?
vou matar o meu algoz !


Obcecado, discipulado teus atos
tão docentes
Minha indecente pretensão instintamente acende
Desperta-me um fascista tosco, não dispersa
Um fanático terrorista, voraz cafajeste
dizendo: não desista”


É a tua catequese que instiga
a nua vil beleza do suor impuro
Todo sujeito esconde um sentimento brejeiro
lama pro predicado sujo
Rixa com a vida alheia não me interessa
Só um desabafo laxativo - ninguém no mundo presta!


Desculpem o desacato estou louco, sem juízo!
Não desprezo os santos, não ironizo os puritanos
nem quero perder o paraíso
Mas conheci ti, o Éden, e preciso morder a maçã
Minha inocência se afrouxa na praxe do profano
apesar de toda reza

Oração da manhã

Posted: quinta-feira, 7 de maio de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Dá-me a vida em abundância
Tu que não encontraste lugar nos sistemas
Tu que tens tantos nomes
eu te chamo Inspiração


Vem a mim o vosso reino
imaculado, sem ementa
Vem, levanta e enfrenta
o Estado dos meus problemas
o tribunal injusto da história


Seja feita a tua vontade
o teu mito a tua verdade
o teu escárnio e a tua glória
-artesanal estratagema


Este teu pão que me alimenta
é fé e fogo - feito água benta
meu amigo imaginário


E se chama Inspiração
Tu que estás acima dos homens
no cerne da arte e do poema
Dá-me a vida em abundância

Roberta Villa

Meu amigo Peixe Grande

Posted: quarta-feira, 6 de maio de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in
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Contar histórias é uma dádiva, mas nem todos sabem fazer isso, outros, por sua vez, fazem muito bem. Há aqueles, porém, que não só contam, mas também vivem suas histórias. A ortografia contribuiu com eles quando não mais diferenciou História – a ciência histórica, a disciplina que aprendemos na escola -, e Estória – narração fictícia, conto de origem oral e popular, fábula.
Tenho um amigo que é um fabulador nato, para uns um mentiroso de mão cheia, para outros um contador de histórias tão magnífico, que até ele chega a acreditar nelas. Seu nome? Não posso dizer, até mesmo porque se dissesse ele diria que é mentira. Chamamos ele de Edward Bloom, protagonista de Big Fish, quem assistiu a esse fabuloso filme saberá o que quero dizer, quem não assistiu, depois de ler esta crônica, vale a pena correr até uma locadora, uma das que ainda resistem firmemente, e dar uma conferida.
- (...) se ele contasse, ele apenas diria os fatos, não colocaria nenhum sabor... Essa fala de Ed Bloom resume bem o modo de enxergar a vida dele e desse meu amigo, - que talvez sejam o mesmo. Existem pessoas que gostam de retratar a vida por fatos reais, comprováveis, outros são grandes demais para a vidinha que levam, então preferem se referir a ela de forma impressionante. Não irreal, mas melhorada. Eles não mentem, não são caluniadores baratos, são poetas, criadores de novas realidades, dá mesma forma que os grandes escritores são. O objetivo é tornar suas histórias mais bonitas e atraentes para quem lê ou ouve.
Meu amigo vai a uma viagem inóspita, difícil, sei que lá ele viverá fatos terríveis, mas quando ele voltar, é certo que voltará bem, essas histórias se tornarão fantásticas, surreais, inacreditáveis e principalmente maravilhosas de se ouvir.