falando sobre poesia - Fabio Weintraub

Posted: sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
0

“Não sei se a concisão pode ser considerada um paradigma para determinadas poéticas e não para outras. Penso na concisão como valor universal, transtemporal, como índice que atesta a voltagem de todo texto poético para além de qualquer opção particular. Trata-se de algo que quase se confunde com a função poética, com a "projeção do princípio de equivalência do eixo de seleção sobre o eixo de combinação" (Jakobson) e que pode ser nomeado de muitas maneiras: polissemia, condensação (Pound: dichten = condensare) etc. Estou só lembrando de slogans teóricos muito conhecidos sobre os quais não é necessário insistir.Coisa bem diversa é identificar concisão com brevidade, e aí a coisa muda de figura. A brevidade, sim, é um valor que pode interessar mais a alguns poetas que a outros. Ocorre que, por algum equívoco de leitura, determinados poetas passaram a endeusar as formas breves (como o epigrama e o haicai, só para citar alguns exemplos) como se poemas de grande extensão significassem necessariamente falta de rigor, desprezo pela concisão. O que não passa de um enorme engano. O poeta pode ser breve sem ser conciso; e vice-versa. Acho que é preciso desconfiar desses que fazem haicais a granel, ou dos que aviam poemas-pílula com ingredientes vencidos e sem receita médica.Por fim, persigo sempre a concisão porque sem ela não há poesia. Com relação à extensão dos poemas, gosto de experimentar de tudo um pouco. Parafraseando Bandeira: "todas as extensões, sobretudo as inumeráveis".

(...)
(Não foi Baudelaire quem disse que a poesia é a "infância reencontrada"? Concordo totalmente, a poesia é o natal da linguagem; linguagem em estado nascente. Uma província na qual a distância entre homem, idéia, palavra e coisa parece abolida (ou ao menos encurtada), onde, mais que representar, o poeta, demiurgicamente, presentifica o mundo pelo verbo.Mas, é preciso lembrar, trata-se de uma infância "reencontrada", isto é, de uma infância que não descarta a capacidade adulta de converter o espanto em palavras ... de uma brincadeira séria, de gente grande. Se não fosse assim, poderíamos equiparar o ignorante preguiçoso, que dorme a salvo das agulhadas do espírito, ao sábio que, após longas pesquisas, afirma só saber que nada sabe. Dito de outra forma: "um artista leva muito tempo para se tornar jovem" (Picasso).
(...)
Todo poeta que queira desenvolver um trabalho sério, consistente, passa por um longo período de aprendizado durante o qual se embebeda, pela leitura, da obra de outros escritores os quais, não raro, procura imitar, atento a detalhes de contrução, léxico e ritmo daqueles interlocutores que elege como seus. Isso o leva a constituir um censor interno que o ajudará a trabalhar. A dimensão do que seja a palavra (o ritmo, a forma...) correta em cada caso ser-lhe-á dada por tal censor. Sem embargo, como nos ensina o poeta e ensaísta W. H. Auden, a palavra correta "ainda não é a verdadeira, pois o aprendiz está agindo como um ventríloquo, mas já se distancia da poesia comum; está aprendendo a escrever um poema autêntico."