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Posted: sábado, 10 de janeiro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in
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A marcação das horas de Ananias Bartolomeu em um relógio de números romanos.

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-Emmanuel G. Lisboa-
(a André Prosperi, meu amigo)

Se andares segundo minhas leis, se agires segundo minhas normas e guardares todos os meus mandamentos, procedendo em conformidade, cumprirei a teu respeito minha palavra.” (Reis I, 6.12)

Vivia feliz Ananias Bartolomeu. Não trabalhava, não comia, não lia, não ia ao banheiro, não transava, não falava, mas olhava as horas. Ananias era um dos poucos possuidores de um relógio tipo cebolão com números romanos. Seu belo marcador de horas era azul e os ponteiros tinham a seguinte disposição: o das horas era fálico e brilhava na ponta, o dos minutos e o dos segundos eram arredondados nas pontas e em cores que diferiam do preto, cor do ponteiro menor.
Tal objeto havia sido presente de seu pai. Franklin Bartolomeu, homem muito sábio e estudioso da astrologia.
A vida de Ananias certamente não foi das mais agitadas, conheci o homem por muitos anos e nunca trocamos uma palavra. A falta de agitação na sua vida deu-se porque Ananias Bartolomeu decidiu lá por volta de seus onze anos e meio que é quando os meninos começam a interessar-se por meninas, olhar para o relógio e observar minuciosamente o movimento de cada um dos ponteiros do mesmo.
Correu então toda a sua puberdade e adolescência reparando e anotando em pequeno bloco cada um dos movimentos do ponteiro das horas. Viu seus irmãos se casarem sua mãe falecer a casa em que morava desmanchar-se e não se moveu. Até completar vinte e cinco anos que foi quando ao sentir frio mudou-se para dentro de uma igreja. E por ele passavam casamentos, enterros, tempos litúrgicos e ninguém reparava Ananias, muito embora o homem fosse bastante alto, nem Deus reparava nele. A igreja que era sua morada foi fechada para reformas, certa feita um pedreiro se deparou com Ananias e ajudado por um de seus serventes transferiu o homem para um prostíbulo próximo. Na zona Ananias apercebeu-se do não notado. Era o ponteiro dos minutos, ele nunca havia o visto. Contava a essa altura seus cinqüenta anos que agora ferrenhamente eram dedicados a medida do meio. Ananias viu ali no meretrício o seu relógio e em volta dele os outros ouviam e viam muitos gemidos, bofetadas, transas e tudo mais que se vê em tal lugar.
Quando Ananias completou setenta e cinco anos, não morreu, mas foi mudado de novo, pois devido a intempéries governamentais sua residência foi lacrada pela polícia, que sempre resolve os problemas de todo mundo. Ananias dedicou-se com essa mudança a não morar, pois mudaram-no para uma calcinha onde registrou os segundos que corriam.
Como ninguém trabalha de graça o relógio de Ananias parou, e o homem fez de seus braços, do qual usava apenas o esquerdo, os ponteiros do relógio.
Quem vive feliz é sua hospedeira, que nunca troca a roupa intima.