O VIOLÃO

Posted: terça-feira, 16 de fevereiro de 2010 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores:
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Pego o violão

tiro a capa
tiro a poeira

O violão branco
de madeira

Passo a mão em sua cintura
(tem corpo de mulher)
Poso para foto
Por posar

Pois não toco
nunca toquei

Ele sempre me tocou
com seu som
nas tardes de cantoria
nas noites de serenatas que eu assistia
nas manhãs que ele me acordava e eu não queria

Penso em fazer soar suas cordas,
um acorde qualquer,
não faço

Pois não toco
Nunca toquei

O violão já trouxe melodia
alegria e até poesia
Hoje não toca mais 

Diálogos que ainda restam  p.23

EU NÃO SOU EU

Posted: quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores:
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Eu não sou eu, sou outro
E outro que não o outro, que não eu
Eu sou outro e outro e
outros tantos e eu

Se sou eu que é outro
o eu que sou também não sou eu
Com tantos eu, outro e outros eus,
como posso olhar algo e dizer: isso é meu?

Como pode ser meu,
se o eu que sou não sou eu?
Quando eu digo meu,
o eu pode estar se referindo ao meu que é do outro
o outro que não sou eu,
então, esse algo é seu!

Mas se sou eu e outro
o outro também sou eu
Aquilo que é seu é meu!

Eu Fabiano, Fernando, Carlos
que diferença faz, se todos os outros sou eu

Eu sou o outro e os outros
sem deixar de ser eu
      sou eu e sou outro
e os outros sou eu

Mas os outros que não o outro,
que não os outros outros
que não eu, também sou eu?

Diálogos que ainda restam p. 43

Um tempo que escorre aos olhos

Posted: quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
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Por Fabiano Fernandes Garcez

            Em À medida dos Tempos, livro de estréia de Clebber Bianchi, percebe-se que no decorrer da obra o poeta amadurece seu canto, amplia suas impressões e expressões, suas visões e percepções de um tempo impossível de se aprisionar, mesmo depois de capturado pelo retrato fotográfico, restando ao olhar lírico apenas a nostalgia de um tempo tardio, mesmo que recente:    
Do peito,
escorre a chama suja dos tempos.
O olhar é simples, singelo,
apenas os tempos são capazes de testemunhá-lo.
O sorriso amarelou no retrato
e a fala muda enalteceu a lembrança.
Somente o sonho sobreviveu.
E a saudade vive nas tardes,
sob as folhas das mangueiras,
a cada lágrima que cai.
           
            Clebber nos dá mosta do labor poético que preza a fenomenologia do olhar, olhar este que se volta para as coisas sem importância, coisas à toa e, por isso mesmo, são de grande valia e merecem ser recordadas:
Haverá um tempo
em que o passado estará exposto
no reflexo das cores orvalhadas
das flores do jardim da janela dos fundos.
As goteiras farão as rimas dos versos
que contarão a história.
O silêncio que havia na casa grande
havia entre os odores do curral.
O galo que há pouco cantou
propiciou reminiscências,
que os roncos dos motores e buzinas,
além do apitar cotidiano da fábrica, apagaram.

                                                                       RETRATOS

            A observação subjetiva das coisas simples, singelas, ganha um forte aliado, sua sintaxe também simples, sem afetações linguísticas de um discurso meramente formalista, que pouco comunica. O discurso poético de Clebber comunica bastante, para isso o campo léxico de À medida dos tempos é cotidiano, comum, no entanto é nessa simplicidade de dizer que é dito muito sobre a solidão, os sonhos infantis e até sobre o fato de se perder as palavras, restando apenas a contemplação sensorial do momento:     
Daqui de cima tudo é solitário.
Viver acima
é encontrar-se surdamente
falando para si mesmo.
Esta é a minha casa da árvore (sonho de criança)
financiada em duzentos e quarenta meses, além de alienada.

Quando enlouqueço e grito lá para baixo,
somente as buzinas respondem.
Em seguida, as palavras não me vêm.
Apenas o pio da andorinha,
um pio, um só.
Apenas uma andorinha,
uma andorinha apenas.
                                                                       UMA ANDORINHA
           
            Cleber vale-se de alguns recursos poéticos, apesar de sua linguagem acessível, como por exemplo, paradoxos e antíteses:
O tempo é permissivo
aos contentamentos descontentes.
Vejo que tudo acontece ao mesmo tempo agora
no cenário dos dias na cidade...
                                                                       PESARES DO TEMPO

Hoje, o tempo me veio solteiro,
em uma noite daquelas em que a melhor companhia era a
solidão.
                                                                       EU INTRA
            além disso, em alguns poemas vê-se um jogo com os diferentes valores semânticos de uma mesma palavra, como em MÁSCARA:
Um ser sem sentir-se
um sentir-se sem ser.
            porém é nas belíssimas imagens poéticas que Clebber Bianchi se mostra mais criativo:
Enquanto os sapos coaxam de sede,
O sol atravessa a pele da terra,
e meus ombros são minha camada de ozônio.
                                                                       DESALINHO

Cansei de respirar uma felicidade esbaforida,
cansada de se engasgar no soluço sórdido,
numa exatidão sem nexo e triste de alma.
(...)
Bastou-me um santo
e ajoelhei-me sobre as cinzas carbonizadas do meu consciente.
                                                                       DILATEM, PUPILAS!

            O poeta também se utiliza de alguns recursos sonoros que fazem com que os seus poemas ganhem em musicalidade e ecoem em nossos ouvidos. Um desses recursos, é o eco fonético, ou seja, aproximação de palavras semelhantes sonoramente:
Eu era um descaso do acaso,
angariado na contramão de uma grande avenida
Os brilhos dos olhos lagrimantes de saudade
de um tempo escorrido nos relógios
refletiam a esperança do passado,
apagada na realidade de um presente sério.
                                                                       TEMPO DE REZA

            Outro recurso utilizado pelo poeta é a onomatopéia:
O relógio tinha que tá, tinha que tá
mas não tá.
(esta foi a única coisa que o tempo parou!)
                                                                       MANTO NEGRO

             Clebber mostra em seus versos, não raro, a influência de Tonho França, e faz uma homenagem à altura do poeta de Guaratinguetá em CHARUTO CUBANO:
Uma lágrima seca escorreu-me de canto
e o canto do pintassilgo emudeceu na gaiola.
Minha cachaça perdeu o gosto quente,
exposta ao sol dos dias.
Mesmo uma pimenta aberta no prato
caçoava minha coragem.
Senti desconforto
e, sob meus pés,
o vácuo das manhãs sem sal provocava saudades.
É contínua a direção dos ventos,
segundo os sonhos,
seguindo sempre somente e só...

Os apoios que me sustentam
são espinhos tristes, sanções expressionistas,
cenários de Van Gogh.
Meu peito dilatado
ressalva as atitudes corriqueiras nas janelas
temperadas de línguas.

E sobre a rede ...
... e sobre a rede,
somente um legítimo charuto cubano
fazia-me companhia,
e entre um trago e outro
trago saudades.
Ao fundo,
solos de blues...
Solos de blues,
à tarde.

As acácias choravam suas perdas,
e as folhas caíam como eu,
solitariamente...

            Outro destaque do livro é OLHOS FECHADOS, poema com uma vertente ecológica e, dado aos problemas ambientais, quem sabe, profético:
A culpa é nossa!
Uma culpa com a imensidão do verso,
do céu-fumaça, estradas-pet, sertão-papel. Culpa tamanha!
O sonho é esperança contida no escorrer das águas nas sarje­tas,
nas mãos atadas dos pobres de espírito,
no papel de bala que perfurou o vento
e não pesou sobre a mente poluída.

É o início do fim. (...)

            Le Goff em História e Memória diz:
“a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”.
Com base nessa afirmação, só resta encerrar a resenha com os belíssimos versos de SEXO DOS TEMPOS, sem antes render as devidas congratulações ao poeta que surge à tempo:

Sou atemporal.
Minhas memórias não morrerão minhas



AS CHAVES

Posted: by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores:
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Tiro do bolso as chaves
para abrir a porta
que não há mais

Volto-me para o corredor
de onde saí
tento refazer meus passos
a procura da saída

Não vejo os quartos
onde nos encontramos,
         nos amamos
as fotos que tiramos,
         nossos sorrisos

Não vejo os objetos, os quadros, os vasos
que enfeitavam a sala de estar
já não vejo nem mesmo o corredor
onde deveria estar

As chaves ...
Passo as mãos no bolso...
Não as tenho mais...

Procuro a porta
Procuro a saída
Procuro um luz no fim do túnel,
mas não encontro o interruptor,
nem uma vela

O ar ficou pesado,
sinto todo peso em meus ombros
O ar ficou pesado
Um peso do passado

Finalmente, encontro uma porta,
que deve ser minha saída
que deve fechar minha ferida
Mas ....
Não encontro as chaves




Diálogos que ainda restam p. 21

Um trago sozinho à tarde

Posted: sábado, 6 de fevereiro de 2010 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
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Ernest Fischer, em A necessidade da arte, afirma:
    Em todo poeta existe certa nostalgia de uma linguagem “mágica”, original.
Em O Bebedor de Auroras, mais novo trabalho do premiadíssimo poeta Tonho França nos brinda com magia, lírica íntima e sintaxe peculiar para resgatar do mundo contemporâneo, a cada dia repleto de surpresas, armadilhas e contradições, a humanidade perdida.
A experiência individual do eu-poético, traz ao livro um tom de saudade e de desencanto, talvez contaminado pelo sentimento de desencaixe, como se pode notar em:

aprendi a ver através das margaridas, mas não entendo mais o
[olhar dos homens
(...)
(Tardes Artificiais)

ou:
A toda hora
A todo momento
Estou fora ou dentro?
(Muros)

A pena de Tonho corre sobre o fazer poético, em inúmeros poemas se encontram as palavras: versos, poesia e poeta, isto em consequência a reclusão no presente de eu-poético fragilizado pelas incertezas do futuro e as recordações do passado:

Meus olhos, embora cansados,
Pressentem o que não podem ver
Aprenderam com o meu silêncio
– rituais e rotinas de solidão –
Meus instintos guardam a memória dos amores
E de tudo o que me é caro e que meu coração...
Já não suportaria.

E de nada me adiantam, agora, lembranças,
Penitências, alegrias ou arrependimentos
¬Estou recluso nos versos –
E nas minhas dores, culpas
Nos enfrentamentos em calmos e intermináveis silêncios
Abertos, vulneráveis, extremamente íntimos
E despidos de profecias, santos e defesas,

Num encontro definitivo, conclusivo, coeso

Do qual nem poeta, nem poesia, saem ilesos.

(Autorretrato (Diálogo do último dia))


O sotaque poético de Tonho França permanece intacto, maneira singular de construção semântica, que aproveita fragmentos de versos anteriores para dar aos posteriores outras significações:

As ladeiras de pedra
Os homens a seguir o destino em procissão
As ladeiras de pedra e os homens a segui
As ladeiras de pedra tentam a remissão:
Os homens de pedra a seguir vão,
homens de pedra a seguir
os homens, em vão.
(...)
(Procissão)


Na construção sintática, menos recorrente nesta obra é verdade, Tonho França também é mestre, trabalha duas orações coordenadas, porém com o segundo elemento do paralelismo inusitado:

Meus olhos guardam o segredo da morte
Suas mãos enrijecidas em pétalas de mármore-rosa
Colhiam maças e notas musicais.
(Canto III)


Mares... destoa do resto do livro, o uso constante da mesma rima dá ao poema um ritmo arcaico, lembrando muito a poesia do século XIII e XIX:

Os barcos deixam o cais,
Aventuram-se e deixam o cais,
Nas ondas inseguras, deixam o cais,
Levando as desventuras, deixam o cais,
Nas noites tão escuras, deixam o cais,
Deslizam entre espumas e corais,
(...)


Ainda na linguagem que o poeta utiliza para suas auroras o destaque fica por conta de Metrópole:
Pivete no semáforo
(vida?)
Vende balas
(perdidas)


o uso dos parênteses dá ao poema outras possibilidades de interpretação, pode-se ler só os termos que estão fora deles, apenas os que estão dentro, ou ainda embaralhando-os.
Em Vida vista pela janela (cenas de um tempo sem sentido), um dos melhores poemas do livro, Tonho nos ensina:

É preciso nos lavar de nós mesmos (..)

Em uma sociedade que é regida pelo olhar mercadológico, o olhar sensorial do eu-poético recai sobre os homens desumanizados, então resta, apenas, concordar com as palavras do poeta:

Já aprendi a sobreviver nas esquinas definitivas
E sinto como é pesada a franqueza
Escrevo abaixo da “linha da pobreza”
Dentro dos olhos e com muita dor
Mas não me iludo, não me engano
Meus versos são pelos seres humanos
A poesia é para sermos humanos
(...)
(Dia a dia)

A voz auscultada das páginas traz a entonação do entardecer, apesar do título constar como auroras, a palavra tarde é recorrente em muitos de seus versos, assim como ecos de um homem, em uma metrópole, solitário à espera de alguém para, quem sabe, um trago de poesia.
O Bebedor de Auroras é um bálsamo contra a banalização do mundo contemporâneo que está cada vez mais e mais dezumano e alienante.


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Posted: quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010 by O Blog dos Poetas Vivos in
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Posted: segunda-feira, 18 de janeiro de 2010 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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A bolsa de valores intelectuais é emotiva e calculista, como todas as bolsas. Hoje temos talento, amanhã não. Éramos bons poetas na circuntância tal , mas agora já estamos com o papo cheio de vento; somos demasiado herméticos, demasiado vulgares; nosso individualismo nos perde; ou nosso socialismo; chegamos a dois passos na Igreja; o que nos falta é o sentimento de Deus; nossa prosa é lírica, nossos versos são prosaicos.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
"Apontamentos Literários"

Posted: quarta-feira, 13 de janeiro de 2010 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Em “Orientalismo”, Said defende a tese que o Oriente é uma criação do Ocidente, promovendo de “Orientalismo” como forma de discurso resultante da elaboração ocidental, que criou dentro de seu sistema acadêmico e intelectual uma espécie de categoria e um tipo de erudito especifico – o Orientalista. Na realidade o que está em jogo é essencialmente uma relação de poder na qual o discurso orientalista constrói e legitima a situação entre dominantes e dominados. Para Said, falar de Orientalismo é a princípio falar de uma empresa Cultural Francesa e Britânica e que, após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se uma empreitada norte-americana. Desta forma o Ocidente, ao construir a imagem de um Oriente inferior, pobre e autoritário, simultaneamente estava construindo sua auto-imagem de superioridade, riqueza, democracia. A manipulação e veiculação dessas idéias gerou conseqüências desastrosas para a humanidade.Como exemplo, o autor aponta a questão da dominação americana no Oriente, e descreve a pretensão ocidental desde Napoleão no século XVIII, de mudar o mapa do Oriente Médio.

Ocorre também que o mundo academico acabou tomando para si a responsabilidade de formular teses e doutrinas em relação ao Oriente e ao “povo do Leste”, sobre sua língua, sua história, sua política e até sobre sua mentalidade. Partindo do projeto de Oriente como um objeto de estudo dos acadêmicos ocidentais, foi criado um discurso com viés erudito e imaginativo por meio de pesquisas e literatura, que é comercializado até hoje. Nesse sentido indivíduos de várias áreas do conhecimento como escritores, filósofos, teóricos políticos, economistas, administradores imperiais, tem aceitado a distinção básica entre Leste e Oeste como ponto de partida para seus discursos.

Com o término da guerra de 1973 o árabe passou a ter mais destaque entre as figuras do mundo oriental, porém de forma negativa, como alguém que pode prejudicar o mundo desenvolvido. Deste modo o árabe é visto como ameaçador.Para compor este mito em torno dos árabes e mulçumanos os intelectuais orientalistas contribuíram significativamente. Muitos dogmas foram gerados pela academia ocidental ao tratar dos árabes e islâmicos; o principal está na oposição sistemática – pode-se dizer maniqueísta - entre Oriente e Ocidente: o primeiro é o lugar do desenvolvimento, do humanismo, da racionalidade, e o outro é um espaço inferior, bárbaro, incivilizado. Assim, o interesse e a preocupação americana com o Oriente – e, todavia, o incentivo às pesquisas e publicações - surgiu com a necessidade de compreender aquele povo que significava uma ameaça à hegemonia ocidental.

É justamente a construção deste discurso e suas conseqüências que Said se propõe a problematizar. Para o autor, através do orientalismo o Ocidente criou um saber, produziu um oriente político, sociológico, ideológico e ainda, criou um discurso científico para legitimar sua autoridade, ou seja, são visões e versões criadas por uma civilização para inventar a outra - processo que se iniciou a partir do período pós-Iluminista. Pode-se perceber a persistência desse discurso dominador moldado pelo Orientalismo através da persistente distribuição de consciência geopolítica nos textos estéticos, sociológicos, históricos e filosóficos. O Orientalismo se manteve através de um intercâmbio dinâmico entre autores e os grandes interesses políticos moldados pelos três grandes impérios. Um exemplo disso é que autores como Lewis e do Huntington defendem idéias semelhantes, como a supremacia dos Estados Unidos - representante do Ocidente - em relação ao Oriente; e com esta concepção reiteram o conflito entre “raças” com teses do tipo “choque das civilizações”.

Said critica estas teorias dizendo que “um dos grandes progressos na moderna teoria cultural é a percepção, quase universalmente reconhecida, de que as culturas são hibridas e heterogêneas” (p. 460). No mais, nos afirma é que o “Orientalismo” não foi escrito para ser um livro “antiocidental”, entretanto, diante de um contexto tão turbulento e tenso entre dicotomias de Ocidente e Oriente -nós e eles- muitos o interpretaram como tomando partido a favor dos orientais oprimidos. Admite, com pesar, que embora o seu livro tenha chegado a vários lugares no mundo e tenha cumprido um papel importante de impulsionar a discussão, não houve mudanças significativas na compreensão norte-americana - apesar de na Europa a situação ter melhorado um pouco. Said argumenta ironicamente que “[...] se o Iraque fosse o maior exportador mundial de bananas ou laranjas, sem dúvida não teria havido Guerra nem histeria em torno de armas de destruição em massa misteriosamente desaparecidos [...]”. Essa citação é ilustrativa para compreender como o autor percebe o interesse dos EUA, criticando a falsa intenção de levar a paz ao mundo, que na verdade esta intimamente relacionada com as necessidades de sua político-econômica. Oi seja, ao se acentuar a bipolaridade Oriente Ocidente, o que está em jogo nada mais é do que uma fria relação de poder e dominação.

Por fim, o que de fato o autor pretendia com a obra era “libertar os intelectuais dos grilhões de sistemas como o Orientalismo” (p. 450), defendendo a noção do Oriente como local autonomo e que, portanto, deve ser respeitado dentro de sua própria lógica, não podendo então, ser julgado de acordo com a dinâmica da sociedade ocidental.


do lugar comum

Posted: terça-feira, 17 de novembro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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a paixão é feito ânsia
e o amor, paciência

Na cama se prova este teorema

na paixão está o músculo a contração
e no amor a gente dorme, descansa
Na tênue distância
entre a inércia e a tensão
configura-se a trama

Depois de consumada
a paixão memória
rarefeita
Feito carne é o amor
(matéria cotidiana)

nua, a sinceridade dos corpos

no olhar e na fala muda
o amor ali se implanta
A paixão: paladar e tato
perecível ápice transpira expira
crua sensação e instinto

mágica feita de vento, transparente ciche
da indelével procura
O amor, substrato do tempo, diária fatura
é pão e cimento

Tarde de Autógrafos com Fabio Weintraub e Pádua Fernandes

Posted: sábado, 7 de novembro de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in
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Fabio e Pádua lendo seus poemas





Conversa após a palestra



Fabio, Pádua, Fabiano, Roberta e André

Pedreira

Posted: quinta-feira, 29 de outubro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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No meio do caminho os analfabetos, favelados
e a vitória democrática do sufrágio

No meio do caminho os mal pagos, viciados
e as horas passadas de tormento e trabalho

No meio do caminho os andarilhos incorrigíveis
extraviando vossas pernas, pêlos, partidos

Os anormais persistem
com flores e fardas infantis

E o caminho continua lá
imóvel imutável
feito pedra
dura, a encarar o sujeito.

Estilingue e molecagem

Posted: by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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As nuvens formavam um peculiar labirinto
jamais deveria te-las violado
munido desta instrumentária

Jaz sobre mim uma gota
pesada certeira
caldalosos esgotos
e goteiras
grosseiras
enxurradas
Sobre mim há um cheiro
de fossa e enchente

- Profanar os profanos é o maior pecado
injuriar os dementes é o maior pecado
apreender os divinos é consumar o calvário -

Se seu soubesse que não se volta ao passado
a palavra vale prata
mas o silêncio é impagável

Nunca tive coragem
para naufragar um barco
só que hoje, justo o Hoje
com sua urgência e seu atrazo
tornanou-se um mostro mitológico
vindo dum ciclone d`água
emblemátco enigma do rodamoinho
( a vida neblina; inda preciso navegá-la)
Ah! me rendo
simplesmente abrindo o ralo
vi passar adiante todos
meus planos manchados
dissolutos
papéis apagados.

Enfim pensei sobre minha morte

Então a juventude ficou para traz.

Tarde de Autógrafos

Posted: by Fabiano Fernandes Garcez in
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A Livraria Café e Cultura convida você para a Noite de Autógrafos dos livros Baque e Cinco lugares de Fúria, com os autores Fábio Weintraub e Pádua Fernandes respectivamente, no dia 31/10/2009, às 17h, entrada franca.


Em 'Cinco lugares da fúria', o poeta Pádua Fernandes apresenta as etapas de um périplo anticidadania. De um mundo traficante de exílios, passando pelo cadáver insepulto de imigrantes clandestinos mortos no deserto, por zonas de classe média onde pedintes são assassinados, entre outros lugares, chega-se ao aborto do espaço público. Por tais regiões inóspitas, que convergem para a distopia, o poeta transita.

Pádua Fernandes. Nascido no Rio de Janeiro em 1971, vive em São Paulo, onde é professor universitário. Foi colaborador da extinta revista portuguesa de cultura Ciberkiosk e integra o conselho editorial das revistas Jandira (Juiz de Fora) e Cacto (São Paulo). É autor de O Palco e o Mundo, poesia (Lisboa, Edições Culturais do Subterrâneo, 2002) e é organizador e autor do posfácio da antologia de Alberto Pimenta, A Encomenda do Silêncio (São Paulo, Odradek Editorial, 2004).


Em baque, Weintraub radicaliza a poética de seu livro anterior, Novo endereço (2002), abrindo mão de nomear sua paisagem íntima para dar voz a uma outra intimidade: a de prostitutas, motoboys, doentes, ex-modelos, mendigos, idosos, entre outros seres que vagam entregues à própria sorte. Por meio de uma escolha muito precisa de imagens, ritmos, dicções, estes versos cristalizam — no melhor sentido da palavra - a experiência do espaço social degradado de uma grande metrópole.
Nesse sentido, "Fotografia" parece ser um poema emblemático do livro: "De cócoras/ como quem ora/ ou pragueja/ sob a marquise/ a mulher// Oculta/ pelos caixotes/ embriagada/ entre sobras de repolho// Pela calçada em declive/ cachorros lambem o chorume// Penso na foto/ franzindo a testa// solidário/ imprestável". Pois é exatamente dessa "inútil" solidariedade que parecem nascer os versos de Weintraub, em cuja linguagem límpida e exata o grotesco aflora — veja-se o assombroso "Transplante" — como expressão contemporânea da subjetividade


Fabio Weintraub nasceu em São Paulo, em 1967. Psicólogo pelo Instituto de Psicologia da USP, com formação em psicanálise, atualmente cursa o mestrado em Teoria Literária na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade. Publicou os livros de poemas Sistema de erros (1996), vencedor do prêmio Nascente em 1994, e Novo endereço (2002), que recebeu os prêmios Cidade de Juiz de Fora, em 2001, e Casa de las Américas, em 2003. Trabalha como editor em São Paulo.


Livraria Café & Cultura
Av. Dr. Renato de Andrade Maia, 765 – Parque Renato Maia – Guarulhos – SP.
11 2229-0376

Literatura de Cordel

Posted: quarta-feira, 28 de outubro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in
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Aproveitem!

As mães com suas filhas

Posted: terça-feira, 27 de outubro de 2009 by O Blog dos Poetas Vivos in Marcadores:
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Eu vi as mães com suas filhas quando moças
e as moças me mostraram
o retrato
de suas mães quando moças
com elas bebês em seus braços
- de mães moças
que carregam no fôlego do ventre
tanta vida e tantas cores,
tantos ares como um fardo

Eu vi as moças com suas mães envelhecerem
e as cores amarelarem
e os ares acinzentarem
mas o retrato continua o retrato
das mães quando moças
com seus bebês nos braços

E vi as moças e seus bebês e sua mães
e sei que um dia ainda verei
os bebês com seus novos bebês
e retratos

E as mães com seus corpos de aço
com seus filhos crescidos, criados
criarão também rugas de tédio
talento e cansaço
findará – se o ciclo de seus ovários
os seios se secarão
mas restará o legado

tudo se evapora, dissolve na vida
menos o retrato
das mães quando moças
com suas filhas nos braços.