Vale em Poesia entrevista o poeta Fabiano Fernandes Garcez
Posted: quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: Fabiano Garcez
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Vale em Poesia – Qual a importância da poesia, da música, da dança, do teatro, do cinema, das artes plásticas, enfim, da arte na sua vida?
Fabiano Fernandes Garcez - A arte é muito importante na vida de todos, é pela arte que sentimos o que não é sentido, é pela arte que tornamos consciente aquilo que nos é inconsciente. Gosto de todas as manifestações artísticas, principalmente a literatura, o cinema, as artes plásticas e o teatro, não tinha muita afinidade com a dança, até que me casei com uma professora de dança e coreógrafa, então passei a prestar mais atenção e pude perceber como é importante para o espírito humano a manifestação corporal, ainda não aprendi a dançar, mas já passei a apreciá-la.
VP - Você acredita que o jovem de hoje valoriza algumas manifestações artísticas como a poesia ou a literatura, o teatro, a música clássica e as artes plásticas? Por quê?
FFG - Não. Devido a minha profissão, de professor, percebo que tudo isso é muito distante dos jovens, a não ser a música comercial e o cinema de entretenimento, porém percebo que apresentando essas outras manifestações artísticas a eles e, principalmente, guiando seus olhares a coisa muda de figura, mas de primeira eles não gostam e até criticam aquilo que não conhecem muito, cabe a nós fazer o papel de guia, de cicerone para eles. Certa vez, quando trabalhei em um projeto social, fiz uma atividade com a música Meu Grui do Chico, a meninada toda torceu o nariz, depois fiz uma breve explanação sobre a letra, então um menino me disse que não gostava de Chico Buarque, mas essa música era legal, perguntei quais outras músicas do Chico ele conhecia e ele me respondeu: Só essa!
VP – Você acha que uma utilização mais efetiva da poesia, da música, das artes plásticas, do cinema, enfim, da arte no processo educacional enalteceria a sensibilidade das pessoas, de modo a fazer com que as pessoas se tornem pessoas melhores?
FFG - Claro que sim! Lembro-me de uma entrevista de Ferreira Gullar em que ele afirma mais ou menos o seguinte: Você pode viver bem, mas se você conhece Drummond você vive melhor ainda! Só por meio da arte que o ser humano toma contato com a humanidade que nesses tempos anda desaparecida de todos os seres. Pois quem vê, por foto mesmo, o teto da Capela Sistina, ou o Davi de Michelangelo, quem assiste a um filme como Cidadão Kane, Peixe Grande ou A Vila, só para citar três, quem lê os versos de Ferreira Gullar, Adélia Prado, Bandeira, Vinicius, ou quaisquer outras das inúmeras manifestações do gênio humano, não pode ficar sendo a mesma pessoa que era antes.
VP – Quem escreve, escreve sempre para ser lido, por muitos ou por poucos, mas para ser lido. Quem seriam seus leitores?
FFG - Sempre escrevi para as pessoas comuns, na verdade a poesia elitista nunca me tocou, acho que o poeta tem ser complexo na mensagem, não na forma ou no vocabulário, gostaria que as pessoas simples lessem meus poemas, as lavadeiras, os porteiros, os motoristas, é para eles que escrevo, creio eu que são eles que necessitam, não da minha, mas de qualquer poesia. Lembro de uma entrevista, não sei com quem, que dizia que Pablo Neruda era considerado o maior poeta do Chile, porque ele escrevia para os pescadores, resolvi que era isso que eu queria para o meu texto.
VP – Você acompanha o atual panorama da poesia contemporânea brasileira?
FFG - Sim, tento me manter atento aos poetas de meu tempo, vejo com bons olhos a poesia contemporânea, existem ótimos poetas novos, digamos dos anos 90 para cá, de cabeça posso citar alguns que gosto muito: Tonho França, César Magalhães Borges, Fábio Weintraub, Tarso de Melo, Pádua Fernandes, Claudio Daniel e Claudia Roquette-Pinto, esses eu acompanho já algum tempo, mas além desses existem outro menos conhecidos, são meus amigos e escrevem muito bem: Noemi Moura, Maria de Lourdes Alba, Cleber Bianchi, Jurandir Rodrigues. Além de tudo isso, existem poetas que estão produzindo muito, mas apenas em Blogs e ainda não publicaram livro algum.
VP - Como é a feitura de seus poemas? Tem algum método especial de construção?
FFG - Não. Alguns escrevo de uma vez, eles veem prontos, outros escrevo apenas um verso e depois de muito tempo faço o resto, às vezes escrevo apenas idéias e desenvolvo o poema a partir delas, ou então escrevo como prosa e transformo em poema, no ano passado escrevi uma série de 80 poemas em apenas duas semanas, depois passei a cortá-los, modificá-los e excluí-los e sobraram 50. Às vezes escrevo direto no computador, às vezes faço rascunhos em papéis, meu único método de escrita é não ter método nenhum.
VP – Como foi a concepção do livro?
FFG - Diálogos que ainda restam na verdade não era um livro, quase todos os poemas entrariam em Poesia se é que há, o meu primeiro, nele estão poemas que escrevi desde meus 14 anos (anos 90) até o ano de 2008, mas a quantidade de páginas ficou muito grande, quase 200, então pensei melhor e publiquei primeiramente apenas os poemas mais antigos, que são os estão em Poesia... . Depois relendo os poemas que sobraram, percebi que eles tinham um tema central, mesmo sendo tão diferentes entre si, achei que eles se referiam à comunicação ou a falta dela, então passei a ler e relê-los e dividi-los em capítulos, aí me veio o nome: Diálogos que ainda restam, quando o livro ficou pronto, pedi auxílio ao grande poeta César Magalhães Borges, que foi meu professor na universidade e depois disso passei a ter amizade, e ele me ajudou, com alguns pitacos poéticos a dar um tom mais lírico, diferente de Poesia... , então passei a mandar o livro para algumas editoras. Entrei em contato com outro amigo, o maior poeta de Guará, Tonho França, para que ele me recomendasse para sua editora, a Multifoco, foi então que ele me disse que estava abrindo um selo por essa editora e me pediu o material, mandei, ele leu e gostou. Assim surgiram Diálogos que ainda restam.