Você viu ou colocou poesia aqui?

Posted: quarta-feira, 29 de abril de 2009 by Fabiano Fernandes Garcez in Marcadores: ,
9

Um grande amigo meu veio com uma provocação: O poeta vê poesia nas coisas ou põe poesia nas coisas que vê? Sei lá, respondi. Não sabia mesmo, mas resolvi refletir um pouco.
É impossível tentar definir poesia em apenas trezentas palavras, mas vamos lá. Primeiramente devemos separar poesia de poema. Poesia é o conteúdo, esse conteúdo pode conduzir a transcendência, beleza ou emoção, e poema é apenas o texto escrito em versos. Assim, o poema pode ter ou não poesia. Já a poesia pode estar presente em um poema, um filme, até mesmo em um entardecer, enfim, em tudo que, de certa forma, percebemos pelo sentimento, ou pela emoção.
Acho que o poeta enxerga poesia onde outras pessoas não veem, para ele é ver a poesia já existente, para os outros, quem sabe, seja colocar poesia onde não existia. Conheço alguns poetas que jamais escreveram um poema sequer, mas em conversas sempre aparecem com uma sacada legal, uma visão diferente sobre alguma coisa. Ver poesia, talvez, seja estar perceptível as belezas do mundo, das coisas, dos homens e das ideias. Há uma definição que gosto muito, cujo autor não me recordo, diz assim: Poesia é o olhar incomum sobre os homens comuns.
Um dia escutei os versos da canção Relicário de Nando Reis: (...) Sobe a lua porque longe vai?/Corre o dia tão vertical/ O horizonte anuncia com o seu vitral/ Que eu trocaria a eternidade por esta noite (...) Achei maravilhoso, já imaginou trocar a eternidade por uma noite apenas? E pior, saber que será só uma noite? Eufórico cantei para um amigo, ele disse: Nada a ver, né? Se foi o Nando Reis que colocou nesses versos, ou se só eu consegui ver, não sei, mas que há poesia ali, há!

9 comentários:

  1. Fantástico! Quase me convenceu de que, acaso todos os homens comuns do universo morressem, sobrariam apenas coisas e poetas no universo. E se todos os homens, poetas e comuns, morressem, Sobrariam apenas poesias. E se (indo ainda mais longe), morressem homens, poetas e coisas, o que restaria? Segundo a lógia da suposição acima, a poesia está nas coisas e se conclui que sem coisas não há poesia. A poesia se torna dependente das coisas. Mas, se por outro lado a poesia (ou maneira/habilidade de ver poesia nas coisas) está no poeta, o que o diferencia dos homens comuns? Será uma virtude? uma teratologia? Indo mais londe ainda: e se a poesia não for encontrada em nenhum dos três? e se a poesia for a busca do poeta, em vez de uma virtude já estabelecida em sua alma, de modo que o poeta "enfia" esta busca nas coisas?

  1. Pedro says:

    Acho que o poeta vê poesia nas coisas e que, por bem ou por mal, essa poesia causa uma impressão marcante, imanente e transcendente; além disso... já citei o que vou colocar aqui uma vez no blog do Tom Zé, mas pela concisão da expressão da ideia e por sua contribuição, retomo as palavras do Drummond mais uma vez: "entendo que poesia é negócio de responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da comtemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos."

  1. Olá, Pedro Paulo! Concordo o Drummond, mas ainda não sei se concordo com você, com o Fabiano ou comigo. De qualquer forma, segue outra pergunta: Será mesmo o poeta este ser superior aos demais homens, com habilidades e percepções que transcendem o potencial humano natural?

    Ah! Fabiano, o "fantástico" do primeiro comentário não é irônico. Adorei mesmo o texto!

    Ps.: troquemos ideias.

  1. Caros amigos Apóstolos André e Pedro,

    Não considero o poeta um ser especial, mas ele consegue passar para o papel o seu modo único e pessoal de ver a vida, as pessoas, as coisas e, até, si mesmo, ele tem um olhar diferenciado incomum sobre algo comum, e isso não é só o poeta que faz, uma bela jogada, ou belo gol nascem de um modo diferenciado de ver do grande jogador de futebol, depois de assistir ao gol, era fácil, era lógico, podemos dizer, mas, ali, em segundos, só craque antevê a jogada e faz o que nenhum outro faria, da mesma forma a Dona Maria (famosa) vê em restos de comida do dia anterior (arroz, feijão, tomate, ovo e farinha) um delicioso virado, a virtude dela é vê nos restos uma nova refeição. Michelangelo dizia que a escultura estava pronta era só retirar as sobras ... Quintana nos dá uma licão em seu poema: O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.
    Da mesma forma que José Paulo Paes viu um poema em uma placa de trânsito: Liberdade: Interditada -> Paraíso (eram épocas de Ditadura) fotografou a placa e a colocou em seu livro, a placa estava lá para todos, alguns viram apenas a informação, ele viu além, viu poesia. Sensibilidade ... Quem a tem, faz diferente, é o que explica :

    Um craque ver um gol em uma bola perdida, um músico ver uma grande canção em apenas três acordes, um poeta ver poema em placa de trânsito, uma cozinheira ver uma nova refeição em restos, um diretor ver um filme em um roteiro ...

    Sensibilidade ... é o caminho, eu acho.

  1. Fabiano, que boa sugestão! A sensibilidade é o caminho. Eu também acho. Não me pergunte se esse caminho leva a algum lugar, mas creio que o caminho É o próprio lugar. Uma vez que o caminho (para aquele que caminha) nunca é estático, quem sabe a tal da poesia não seja este caminhar, ou o (f)ato de percorrer o "caminho da sensibilidade"? Quem sabe a falta de definição do que "é poesia" se deva ao fato(?) de esta se encontrar num movimento constante?

  1. Pedro says:

    Isso aí Fabiano! Muito bem colocado: a sensibilidade é o caminho da poesia. Alguns passam essa sensibilidade pro papel, outros canalizam essa sensibilidade em outros meios (pratos de comida ou fotografias). A Cris me mandou um texto bacana do Rubem Alves que tem um pouco a ver com o que estamos conversando (http://www.rubemalves.com.br/acaixadebrinquedos.htm). Leiam quando possível; abraço a vocês.

  1. Porra, Pedrão! Faz um tempão que procuro este texto. É maravilhoso. Por isso afirmo com o maior prazer que a poesia não serve pra nada. Concordo o Rubem piamente neste sentido (embora ele não faça eferência a poesia pelo que me lembro). Mais uma vez obrigado! Espero que vc continue contribuindo para o blog com seus textos e sua visão crítica. Haja vista estarmos desenvolvendo a supracitada.

  1. *concordo COM o Rubem

    *Referência

    haja cagada, hein?

  1. Pedro says:

    E aí companheiros! Estaremos juntos aqui, podem ter certeza. André, me conte depois sobre a virada, blza? =)

expresse algo!